domingo, 29 de agosto de 2010

No calor do teu corpo


Era quase manhã quando Natália voltou a casa. Estava felizmente cansada. Mal abriu a porta da entrada, começou a despir-se, deixando pelo caminho para o quarto as várias peças de roupa de que se ia desfazendo.
Hesitou entre o banho de imersão ou o duche. Optou pelo último. Meteu-se na banheira e deixou a água escorrer pelo corpo. O cheiro da lavanda de Rodrigo tornou-se percetível. Ficou assim, uns instantes parada.A água continuava a correr pelo corpo dela reavivando-lhe a sensação difusa de que ele ainda estivesse dentro dela. Não presente, mas numa fusão estranha de odores e de pulsões. Uma espécie de ter e de não ter.
Era uma sensação algo divina, tal o enorme bem estar. Nem sabia o que era melhor. Se o duche que tomava quando se preparava para o ter, se aquele que tomava depois de o ter tido. Sempre se apossara dela esta dúvida.
Amanhã cada um seguiria a sua vida. Mas durante aquele mês de ausências familiares intermitentes, eles não se cansavam um do outro. Todos os anos era assim. E já lá iam cinco.
É imoral o que faço, pensava, enquanto a água lhe escorria pelo corpo. Mas imoral para quem? Não estou a roubar nada a ninguém, nem pretendo fazê-lo. Então, onde está a imoralidade de nos concedermos, sempre, estes noites de folga das respectivas famílias, se estamos com elas, felizes, ao fim de semana?
Eram oito da manhã quando Rodrigo ligou a Márcia. Ninguém atendeu o telemóvel. Pensou que ainda estavam todos a dormir. Deixou mensagem "Querida vou agora sair para uma reunião chata. Só queria saber como estão todos. E dizer-te que te amo".
Fechou o aparelho, desligou o candeeiro e meteu-se entre os lençois para dormir!

Helena

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