sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Corpo e alma


Ela soube, naquele momento, que tudo havia terminado. Soube-o, porque nesse instante a sua alma abandonara o seu corpo. Tudo o resto não tinha mais importância.
Ester perdera-se nos braços de Jaime no preciso momento em que o seu olhar se cruzou com o dele. Foi num fim de tarde de Outono, no bar de um hotel. Nessa altura a conversa entre ambos não foi mais do que simples pretexto para o que horas depois entre eles se passaria.
Paixão imediata? Desejo incontrolável? Não saberia responder. Nem hoje, sequer. Foram seis meses de reboliço na sua vida até à passagem por um registo, fácil, de casamento.
Trinta anos durou o matrimónio registado. Mas ela sabia que ele acabara muitos anos antes. Lá atrás, numa outra tarde de Outono, parecida com esta em que ela se encontrava depois de vir do funeral do marido.
A paixão, alimentada pelo desejo, durou bastante. Mais do que os livros dizem ser habitual. Depois, suavemente, amansou. Mas continuou a tonificar-lhe o corpo como uma vitamina que se toma regularmente para manter o bom estado físico.
Até que um dia, talvez uma noite, já não se lembrava bem, algo aconteceu. E disso, desse momento exacto, ela lembrava-se bem.
Jaime procurara-a para se satisfazer e satisfazê-la também. E ela, nos seus braços, nesses braços onde outrora dera vazão ao seu ardor, teve aquela estranha sensação de que a sua alma se separa do seu corpo. Já não era Ester que estava ali.
E já não foi mais ela que, nos anos que se seguiram, o marido encontrou. Foi o seu corpo físico que ele continuou, até ao fim, a possuir. Não ela inteira, não a sua alma. Nunca mais, até aquele instante, em que Ester sentia que acabara de a recuperar!

Helena

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