Era sábado quando decidi ir até Campo de Ourique, local onde habitualmente realizo as compras de fim de semana. Ao passar junto à Basílica apeteceu-me entrar. Não porque fosse ocasião de missa ou que tivesse algum assunto para tratar. Nada disso. Foi gesto impulsivo, uma necessidade do momento, que poderá até ter sido ditada por uma semana particularmente agitada.
Arrumei o carro e entrei. A igreja não tinha mais do que seis pessoas e a luz que entrava através da cúpula e dos vitrais tinha algo fora do comum.
Sentei-me junto do altar de S. José, o meu tardio padrinho de baptismo - é verdade, tinha vinte anos quando decidi faze-lo - e ali fiquei imóvel por um bom bocado. Absolutamente entregue ao momento, sem orar, sem me mexer.
Teriam passado uns quinze minutos desta estática em que me encontrava quando uma criança cor de café com leite se aproximou de mim, se sentou, encostou a cabeça ao meu regaço e me disse "leva-me para tua casa".
Surpreendida perguntei-lhe pelos pais e como havia ido ali parar. Levou tempo a que lhe ouvisse a resposta "morreram, leva-me para tua casa". Tentava ainda perceber alguma coisa do que se passava na vida da miúda, quando vejo uma autêntica matrona dirigir-se para o local onde nos encontrávamos, pegar na garota e leva-la por um braço para fora dali.
Incomodada peguei na carteira e saí para lhe perguntar que tipo de laços a ligavam à criança. Nada. Num ápice tinham desaparecido ambas...
Helena