sábado, 15 de setembro de 2012

Momentos especiais

Há na vida de cada um de nós momentos especiais. Não têm que corresponder a datas de tradição familiar, nem a acontecimentos particulares.
Era sábado quando decidi ir até Campo de Ourique, local onde habitualmente realizo as compras de fim de semana. Ao passar junto à Basílica apeteceu-me entrar. Não porque fosse ocasião de missa ou que tivesse algum assunto para tratar. Nada disso. Foi gesto impulsivo, uma necessidade do momento, que poderá até ter sido ditada por uma semana particularmente agitada.
Arrumei o carro e entrei. A igreja não tinha mais do que seis pessoas e a luz que entrava através da cúpula e dos vitrais tinha algo fora do comum.
Sentei-me junto do altar de S. José, o meu tardio padrinho de baptismo - é verdade, tinha vinte anos quando decidi faze-lo - e ali fiquei imóvel por um bom bocado. Absolutamente entregue ao momento, sem orar, sem me mexer.
Teriam passado uns quinze minutos desta estática em que me encontrava quando uma criança cor de café com leite se aproximou de mim, se sentou, encostou a cabeça ao meu regaço e me disse "leva-me para tua casa". 
Surpreendida perguntei-lhe pelos pais e como havia ido ali parar. Levou tempo a que lhe ouvisse a resposta "morreram, leva-me para tua casa". Tentava ainda perceber alguma coisa do que se passava na vida da miúda, quando vejo uma autêntica matrona dirigir-se para o local onde nos encontrávamos, pegar na garota e leva-la por um braço para fora dali.
Incomodada peguei na carteira e saí para lhe perguntar que tipo de laços a ligavam à criança. Nada. Num ápice tinham desaparecido ambas...

Helena  

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Diálogo improvável

- Toma cuidado Eva. Qualquer dia rebenta-te a batata quente nas mãos.
- Não. Ele só está mesmo à espera de arranjar uma casa, porque já vivem em quartos separados.
- Todos dizem isso. E tu que és amiga do casal bem sabes que eles aparentam estar bem. Então ele está todo carinhoso com a Ivone só para gente ver? E tu aguentas essa situação há mais de seis meses? Ainda se encontram naquela pensão miserável com água correntes quentes e frias, que fica ali para os lados da Praça da Alegria?
- Ainda. Aí, pelo menos, não corremos riscos de encontrar gente conhecida.
- Isso é o que tu pensas. Corres é o risco de apanhar alguma doença...Mas ouve lá, se o Jorge agora até ganha bem, porque é que ele não te leva para um hotel?
- Está melhor, de facto. Mas não é rico...
- Não? Mas ele não é deputado?
- É. Mas é de esquerda. E esses ganham menos.
- O quê? Estás doida? Os deputados ganham todos a mesma coisa.
- Mas parece que eles têm de ajudar o partido e dar alguma coisa do que têm, ou do que ganham. Não sei bem!
- Ah, sim?
- É verdade. É o que ele me diz. E o Jorge não me mente.
- Então porque é que ele não lhes dá a Ivone, que é o que ele tem de melhor?!

Helena