segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Crianças do nosso tempo

- Vasco, o que é que queres ser quando fores grande? perguntou a professora
- Rico, respondeu
- Rico? Sim muito rico, para mandar nos outros e ninguém mandar em mim
- E tu Sérgio, o que queres ser quando fores grande?
- Mais rico que o Vasco, para ele não mandar em mim.
- Tu Mariana, o que vais ser?
- Mulher do Sérgio.
- Mulher do Sérgio, porquê?
- Para ser rica e eu mandar nele
- Vasco, o que fazem os teus Pais?
- Nada. Estão desempregados.
- E os teus, Sérgio?
- Trabalhavam para os pais do Vasco. Agora estão desempregados também.
- E os teus Mariana?
- São donos da empresa onde trabalhavam os pais do Vasco e do Sérgio
- Então vais ficar pobre se casares com o Sérgio.
- Não. Vou ficar rica porque ambos vão trabalhar para mim sem eu pagar
- Mas como?
- Um vai ser rei e o outro Primeiro Ministro.
- Mas quando e onde?
- Isso é que eu ainda não sei...

Helena

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cuide-se!

Era um fim de tarde de Outono, num Domingo. Ester vivia há tanto tempo sozinha, que já não distinguia os fins de semana dos dias úteis. Gostava de passear, ora no meio de multidões ora no meio de solitários jardins.
Assim, meteu-se a caminho da beira Tejo e andou até sentir que estava cansada. Um pouco mais à frente descortinou um banco virado para o rio e sentou-se. Não sabe quanto tempo terá estado assim. Provavelmente terá passado mesmo pelas brasas, admite. Voltou à realidade quando uma senhora de idade e boa aparência se sentou ao seu lado e lhe perguntou as horas. Respondeu e ficaram ambas caladas durante algum tempo.
No banco do lado direito um par de namorados tecia o seu rosário de sonhos. A certa altura, a senhora murmurou: 
- ainda não sabem nada da vida
- ainda há gente feliz
- dura pouco a felicidade...
A conversa ficou por aqui. Uma meia hora decorrida a senhora levantou-se e despediu-se. Já em pé exclamou, a sorrir, um amistoso "cuide-se".
Ester ficou ainda mais um pouco. Quando começou a escurecer voltou para casa, não sem antes entrar numa pastelaria e beber um café para re-aquecer. Quando ia pagar percebeu. O porta moedas, melhor o porta notas não estava na carteira. No seu lugar, numa espécie de contra partida em contrapartida encontrou um cartão que tinha impresso a frase " Foi um prazer. Cuide-se!".

Helena