Marta teve durante toda a sua adolescência o trauma de ser filha
de pais divorciados. Naquela época essa circunstância limitou-lhe os convívios
e até as amizades. Era um tempo em que os casamentos se supunham para toda a
vida.
Talvez fosse essa circunstância que a levasse a olhar a carreira
como um substituto da família até à sua entrada na juventude e na Universidade.
Aí, no meio desses homens e mulheres que batalhavam em pé de igualdade perante
as mesmas dificuldades, ela compreendeu que nada a diferenciava dos restantes
colegas.
Mas
subsistia uma névoa que se manifestava no seu desejo de constituir uma família
sólida que nada pudesse, jamais, abalar. Foi assim que veio o primeiro e único
namoro com um jovem que havia de se transformar no seu marido.
Marta
foi mãe de um casal e a sua vida passou a girar entre o emprego e os filhos. O
seu parceiro ia dando sinais de que se sentia preterido, mas ela não lhes ligou
grande importância. Até ao dia em que se deu conta de que a vida deles como
casal havia mudado radicalmente. Nesse momento tentou inverter a marcha dos
acontecimentos, mas era tarde. Miguel já havia preenchido o espaço que Marta
havia deixado livre.
Seguiu-se
o inevitável divórcio que a deixou com a responsabilidade maior de educar dois
filhos e a sensação trágica de que perdera, por omissão, o homem da sua vida.
Os
anos foram decorrendo e Marta estava decidida a ser uma pessoa diferente se
voltasse a encontrar, de novo, alguém que valesse a pena. Esse dia chegou e com
ele todo um processo de entrega da sua vida a esse novo amor.
Todavia
a vida não se escreve por episódios e, ao fim de algum tempo, Marta percebeu
que não era essa personagem que ela dedicadamente encarnava, que o seu homem
precisava. Isto era tão verdadeiro que se os seus dois maridos se juntassem
para falar dela, nenhum a reconheceria.
Novo
divórcio e uma constatação dolorosa. Quem o seu segundo marido queria, de
facto, era a Marta do primeiro. E este teria sido, eventualmente, feliz com a
Marta do segundo. A vida também é feita destes desencontros...
Helena